III – Capablanca e o jogo na Abertura
Capablanca considerava que não se deveria memorizar as variantes de abertura, que além de desgastante, era uma perda de tempo; o principal seria respeitar os princípios estabelecidos para o jogo nesta fase e conhecer as ideias estratégicas ligadas à fase de meio-jogo, de forma a orientar a transição abertura-meio jogo.
Princípios do jogo na abertura.
Três regras básicas governam o jogo na fase de abertura:
1. Desenvolvimento rápido e eficaz de peças.
2. Domínio do centro.
3. Colocar o Rei em segurança mediante o roque.
Vamos analisar essas regras.
1. Desenvolvimento rápido e eficiente de peças.
Trata-se de colocar as peças em jogo rapidamente (no menor número possível de movimentos). Por esse motivo, a mesma peça não deve ser movida duas vezes, desde que não seja essencial para obter uma vantagem ou por razões defensivas (se for atacada).
Também não é aconselhável mover mais de três peões no início do jogo, uma vez que os movimentos dos peões, com exceção dos peões centrais, não constituem movimentos de desenvolvimento.
Um erro muito comum em iniciantes é colocar a dama em jogo no início da partida. As consequências podem ser a perda de tempo quando o rival com seus peões e peças menores (bispos e cavalos) ataca a dama.
Quando dizemos que o desenvolvimento deve ser eficaz, significa que as peças devem estar localizadas nas casas centrais ou apontando para elas.
Exemplo:
1.e4 e5 2.Cf3 Cc6
Agora queremos colocar em ação o bispo de casas brancas, vamos ver:
i) 3.Be2. Um simples movimento de desenvolvimento.
ii) 3.Bd3. Impede o movimento do peão-d e, portanto, o desenvolvimento da bispo da dama.
iii) 3.Bc4 Controla a casa d5 central e ataca a casa f7, próximo ao rei do oponente.
iv) 3.Bb5. Ataque ao cavalo em c6, defensor do peão central, ou seja, um ataque indireto ao centro.
Concluímos que as melhores jogadas são 3.Bc4 (abertura italiana) e 3.Bb5 (abertura de Ruy López).
2. Domínio do centro.
Um conceito estrito de centro refere-se ao quadrado e4-d4-e5-d5. O conceito de centro ampliado, é o quadrado formado por f3-c3-f6-c6; porque nele está a melhor colocação das peças.
O domínio do centro aumenta o efeito útil das peças (mobilidade), garante uma vantagem no espaço e é condição indispensável para o sucesso de qualquer ataque. Devemos ter sempre em mente o seguinte princípio: “na fase de abertura o objetivo de todas as ações, ou seja, as melhores jogadas de ambos os lados estão sempre subordinadas a um objetivo de lutar pelo centro”.
Tipos de centro – Caracterização
A estrutura central de peões que se estabelece, está diretamente relacionada à estratégia a ser seguida na fase de meio-jogo.
a- Centro aberto
O centro está livre de peões, portanto o papel desempenhado pelas peças é mais importante. O essencial é a coordenação das peças.
b- Centro fechado
Se houver um bloco de peões no centro, o jogo naquele setor será descartado. Cada lado tenta avançar pelo flanco onde pode obter uma vantagem. Ataques massivos de peões são comuns e a questão principal é quem chegará primeiro com o ataque.
c- Centro móvel
Caracterizado por 2 peões centrais na quarta fila, em posição de avançar. Normalmente e4 e d4. O lado que possui esses peões tenta avançar no momento mais oportuno. O lado que luta contra eles tenta impedir seu avanço como o primeiro objetivo e uma vez que isso seja alcançado, eles tentam destruir esse centro.
d- Centro Fixo
Normalmente os peões em d4 (branco) e d5 (preto) e as colunas e e c são abertas. Uma situação semelhante pode ocorrer com os peões-e. Se existe uma formação fixa, o jogo gira em torno dos pontos centrais que cada lado domina e onde procura estabelecer as suas peças.
Tensão no centro.
Se o centro ainda não assumiu uma forma definida, cada lado tenta forçar o tipo de centro que o favorece.
Uma regra a ter em mente: você nunca deve abrir o centro ou tentar avanços de liberação sem completar o desenvolvimento.
3- Colocando o Rei em segurança através do roque.
O roque é tanto a principal jogada defensiva quanto uma jogada de desenvolvimento; ao mesmo tempo que garante a segurança do Rei, libera a torre para atuar no centro. O jogador que viola essa regra, e fica com o Rei no centro, costuma sofrer desastres na abertura.
As regras do jogo aberto de acordo com Paul Morphy.
Até meados do século 19, a habilidade combinatória (cálculo de três, quatro e mais movimentos ofensivos incluindo sacrifícios) era o fator essencial do talento no xadrez.
Entra em cena Paul Charles Morphy, que foi o primeiro a entender que só quem tinha a melhor posição poderia atacar; surge então o jogo posicional.
Quem foi Paul Charles Morphy?
Nasceu em 22 de junho de 1837 em Orleans. Seu pai era de origem espanhola e sua mãe de origem francesa. Aos vinte anos, ele concluiu de forma brilhante seus estudos de direito. Ele era fluente em francês, inglês, espanhol e alemão.
Desde muito jovem se interessou pelo xadrez, pois seu avô era um excelente jogador, e em 1857 obteve seu primeiro grande triunfo ao vencer o campeonato dos Estados Unidos.
Em 1858 iniciou uma viagem pela Europa e venceu os jogadores mais notáveis do velho continente, incluindo Adolf Anderssen. Seu desempenho também foi impressionante devido às suas habilidades como jogador de simultâneas e suas exibições de jogo às cegas.
Ele retornou aos Estados Unidos em 1859. Aposentou-se prematuramente da atividade de xadrez, e é por isso conhecido como “La estrella fugaz del ajedrez”.
Morphy não escreveu nenhum texto que revelasse seu método de jogo, mas seus jogos contêm claramente os princípios para o tratamento de posições abertas.
Em primeiro lugar, você pode ver sua preocupação em ultrapassar o rival em desenvolvimento e controle sobre o centro.
Uma característica predominante em seus jogos é a abertura de colunas e diagonais para atacar a posição adversária, o que muitas vezes ele alcançava sacrificando material, especialmente peões. As partidas abertas exigem precisão e ele raramente perdia um tempo.
De Morphy Capablanca disse: “em seu tempo a questão da posição não era bem compreendida, exceto por ele mesmo”.
Botvinnik (várias vezes campeão mundial), tinha o jogo de Morphy em alta estima e disse que “todo jogador de xadrez, tanto mestre quanto iniciante, deve estudar os jogos desse gênio”.