página 1 de 3


Como Analisar e Comentar uma Partida de Xadrez

.

Uma das principais atividades para quem pretende aperfeiçoar-se no xadrez é a análise das próprias partidas.

.

Felizmente, captei esta idéia logo no primeiro livro que estudei, Estratégia Moderna do Xadrez, de Ludek Pachman, onde ele diz: “Pode-se ver que minhas próprias partidas se encontram com comparativa frequência. Isto não significa que eu as considere os melhores exemplos de jogo estratégico correto, mas sim que cada enxadrista sente suas próprias partidas melhor do que as alheias e pode, portanto explicar melhor os processos analíticos que experimentou durante a partida.”

.

Conhece-te a ti mesmo, e meio caminho estará andado! Uma atitude de autocrítica, especialmente nas partidas perdidas, ajudará bastante no processo de aperfeiçoamento do seu jogo. Para aperfeiçoar-se convém examinar os próprios erros, e para evitá-los no futuro é necessário analisá-los com atenção. Eventualmente, planejar um programa de treinamento visando a eliminação desse tipo de erro também pode ajudar.

.

No xadrez, como na vida, identificar o problema, é uma etapa importantíssima na busca do aperfeiçoamento.

.

Ao analisar sua própria partida, você estará estudando abertura, transição da abertura para o meio-jogo, estratégia, tática, transição do meio-jogo para o final, final, e aspectos psicológicos de uma partida.

.

É realmente interessante analisar nossas partidas antigas e “atualizar” nossas análises e comentários! Tanto isto é verdade, que ninguém menos que o então campeão mundial Garry Kasparov escreveu o livro “Test of Time” onde reanalisa algumas de suas partidas, e ele mesmo encontra furos em suas análises e comentários anteriores.

.

.

Vejamos o que dizia Raul Capablanca:

“Em geral, aprende-se mais nos jogos que se perdem do que nos jogos que se ganham.”

.

E Akiva Rubinstein:

“Dos 365 dias do ano dedico 60 à pratica, 5 ao descanso e 300 ao meu aperfeiçoamento.”

.

Mas seja autêntico ao comentar. A mentira, o comentário enganoso, é prejudicial.

Já dizia o grande Emanuel Lasker: “Diante do tabuleiro, a mentira e a hipocrisia não sobrevivem por muito tempo. A combinação criadora desmascara a presunção da mentira; os impiedosos fatos, que culminam no mate, contradizem o hipócrita.”

.

Talvez por isso, um dos meus livros favorito seja “Practica de Ajedrez Magistral”, de Mikhail Tal, que impressiona pela sinceridade e profundidade dos seus comentários sobre o seu match pelo título mundial, em 1960, contra Mikhail Botvinnik.

E que lances devo comentar?
.

.

Observe que numa partida é comum um dos lados ter vantagem, perdê-la e depois recuperá-la; este perde-ganha da vantagem é comum inclusive em partidas de grandes-mestres. A cada “mudança de lado com vantagem”, teremos lances que ocasionaram esta mudança, e merecem ser analisados e comentados.

.

Em muitas partidas, lances interessantes não foram jogados, ou foram impedidos por alguma razão, e apenas aparecem nos comentários. E sua inclusão nos comentários é uma excelente forma de desenvolvermos entre outros, o senso crítico, nossa capacidade de análise, criatividade e intuição.

 

Como analisar?

.Ainda é cedo para entrarmos em considerações mais avançadas de como analisar, do tipo que aparecem no clássico “Think Like a Grand Master – Piense Como un Gran Maestro”, de A. Kotov.

.

Proponho, então, uma sequência de passos, que orientarão suas análises e comentários.


1a etapa – sem o uso de programa de xadrez

 

1.identifique os lances que geraram desequilíbrios materiais (ganho de peão ou peça) na partida, e proponha alternativas;
2.identifique os lances que geraram desequilíbrios posicionais (domínio de uma coluna, diagonal ou casa, estrutura dos Peões, situação das peças, etc) na partida, e proponha alternativas;
3.tente descobrir lances táticos ganhadores e que passaram desapercebidos durante a partida;
4.anote os lances e variantes que você “quase jogou” durante a partida, e por alguma razão, não o fez, e avalie-os;
5.identifique lances e variantes que poderiam ter sido jogados e avalie-os;

.

.

.

2a etapa – com o uso de programas de xadrez
.

1.coloque o programa para analisar a partida toda; o programa Fritz, da ChessBase, produz análise da partida toda;
2.observe as análise produzidas para os lances anotados na 1a etapa e compare com as suas avaliações; eu gosto de usar o ChessBase com o módulo de análise ativo para os passos 2 e 3 desta 2ª etapa; 
3.insira os demais lances anotados na 1a etapa, e observe as análises produzidas; compare a seguir com as suas avaliações;
4.produza um documento final (!) como se você fosse publicar a partida com os comentários e diagramas numa revista! (também pode usar o ChessBase)

.

.

.

Em 1971, quando comecei a jogar e a analisar minhas partidas, não havia programas de xadrez, então na 2a etapa eu apenas escrevia as análises e comentários num caderno.

.

Recomendo a utilização do fortíssimo e gratuito Stockfish (stockfishchess.org).

 

Para acostumar-se às condições de competição, procure calcular as variantes mentalmente, sem tocar nas peças. É um excelente treinamento!

.

.

.

A avaliação de uma posição

.

Para a avaliação de uma posição, algumas considerações terão que ser feitas:

.

  • correlação de forças (material);–  fatores posicionais constantes: peão passado, peão fraco, casa fraca, centro de peões, par de bispos, coluna aberta, diagonal aberta, domínio de uma horizontal.
    –  fatores posicionais variáveis: segurança do rei, colocação das peças, coordenação entre as peças, superioridade no desenvolvimento das peças, pressão no centro exercida por peças, espaço de manobra para as peças.

.

A resultante da avaliação dos elementos acima, permite que se chegue a uma conclusão sobre a posição, e traçar um plano de jogo efetivo; e esta é uma das qualidades mais apreciadas no xadrez! Atacar, defender, contra-atacar, apenas melhorar a posição das peças, simplificar para entrar num final … o que fazer?

.

Em outras palavras, serão necessárias “muitas horas de vôo” ou melhor “muitas horas de tabuleiro”.


Tipos de comentários

Sinta-se à vontade para usar comentários descritivos, expressando suas ideias através de textos, comentários analíticos, através de variantes concretas e principalmente uma combinação dos dois, através de variantes com descrições verbais das ideias estratégicas, tomando como exemplo o clássico livro de Bronstein sobre o torneio de Zurich 1953.

.

.

.

.

.

.

.

zurich 1

Botão para Voltar à Página Anterior