Minhas Partidas Favoritas

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Algumas partidas mereceram um tratamento detalhado de minha parte, por significarem algo especial para mim, e também por trazerem ensinamentos interessante; e com estas partidas sempre gostei de fazer o “test of time” à medida que as engines iam ficando mais poderosas e até mesmo com o meu melhor conhecimento das posições-chaves.

Espero também que você aprenda com estas partidas e com as análises.

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Minha sugestão para você:

Ao analisar suas partidas, seja um detetive no começo, usando uma lupa! E a seguir, seja um cientista, usando um microscópio!

Faça uma super-análise, como se fosse publica-las.

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Os nossos melhores momentos são os momentos mágicos do xadrez!

Divirta-se!

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GM Smyslov X Sokolik

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O dia em que vencí um Campeão Mundial! Comecei a jogar xadrez aos 16 anos, em 1971, em pleno “boom” do xadrez nacional, graças ao fenômeno Mequinho, e internacional, graças ao polêmico Bobby Fischer. Tive uma rápida ascensão à classe de Candidato a Mestre Carioca, e de repente vejo-me face a face com Vassily Smyslov (1921-2010), Campeão Mundial de 1957-58. Considero esta a minha partida favorita e esta vitória foi um grande incentivo para a minha dedicação ao estudo do xadrez.

Quando Smyslov deitou seu rei e estendeu sua mão para cumprimentar-me, levantei-me para cumprimentá-lo também, e uma salva de palmas rompeu o silêncio no salão da AABB. Fiquei completamente zonzo … Fui para casa sem acreditar que havia ganho de um ex-campeão mundial; o único naquela simultânea repleta de fortes jogadores. Minha meta havia sido alcançada! Minha primeira meta, decidida assim que comecei a jogar xadrez, foi a de estudar o jogo até ter condições de jogar com um grande-mestre, perder, mas entender porque havia perdido. Superei em muito essa meta; na primeira oportunidade, venci, e mais do que um grande-mestre, um ex-campeão mundial!

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PDF – Smyslov – Sokolik, Simultânea 1973

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PGN – Smyslov

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EXIBIR – Smyslov

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MI Limp x Sokolik

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Vencer um amigo das primeiras viagens pelo mundo do xadrez e MI com duas normas de GM, foi para mim um feito memorável. A partida foi uma batalha intensa … sua única derrota no torneio que foi vencido por ele mesmo, e último torneio que participei; e não me classifiquei para a final do campeonato brasileiro por meio ponto, apesar dos bons resultados no duro torneio: dentre os 80 participantes, joguei contra 5 dos 8 maiores ratings (MI Limp 2.469 (1), MI Matsura 2.446 (0) (agora GM), MF Sadi 2.324 (0), MF Dirceu 2.320 (1/2), MF Wagner 2.300 (1)) obtendo 50% dos pontos; tendo vencido o jovem talento Diego DiBerardino, agora MI; obtive o sexto maior rating performance do torneio com 2.306 pontos, terminando o torneio com rating Fide de 2.247; repeti o feito de 1986, quando também não fui à final do campeonato brasileiro por meio ponto. Esta partida é um bom treinamento de tática! Sugiro primeiro reproduzir toda partida sem engine, vendo apenas os comentários e a seguir ativar sua engine e analisar os inúmeros momentos de tática.

Analisando os momentos críticos percebemos que as pretas tiveram mais chances na partida.

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PDF – Limp – Sokolik, SF Brasileiro 2000

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PGN – Limp

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EXIBIR – Limp

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GM Mequinho x Sokolik

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Criei uma tremenda expectativa para esta partida. Enfrentar o amigo desde o início de 1971, quando ele ainda era MI e me recomendou meu primeiro livro de xadrez, Estratégia Moderna do Xadrez, de Ludek Pachman; esta partida foi jogada logo após Mequinho ter vencido o Interzonal de Petrópolis, e eu ter sido integrante do seu staff vencedor, e também ter vencido o ex-campeão mundial V. Smyslov numa simultânea. AlphaZero, com suas partidas, e Stockfish, com suas análises, me fizeram ver esta partida com outros olhos … o que até recentemente eu julgava uma empolgação juvenil, apesar de ainda considerar uma precipitação, agora avalio como um momento original de inspiração, intuição e agressividade.

Fiquei feliz pelas chances que tive de um bom resultado frente ao Mequinho.

LIÇÕES APRENDIDAS:

– ser autêntico, jogar o meu jogo, mesmo contra um dos melhores jogadores do mundo, aspirante e forte candidato ao título mundial! Esta é a forma certa de progredir!

– se há uma continuação segura e vantajosa, por que correr o risco de sacrificar uma peça por 2 peões?

– sempre soubemos disto, mas temos visto agora mais intensamente nas partidas do AlphaZero: a tremenda importância da atividade das peças! Nesta partida tive algumas oportunidades de obter vantagem, mesmo com peça a menos, graças à atividade das minhas peças e às restrições de movimentos das peças do Mequinho, e quem confirma isto são as poderosas engines.

Cabe destacar a coragem de sacrificar uma peça por dois peões …

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PDF – Mequinho – Sokolik, Simultânea 1973

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PGN – Mequinho

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EXIBIR – Mequinho.

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Áureo X Sokolik

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Apelidei esta partida de “Magistral Carioca” por ter sido jogada entre 2 professores, dentro da biblioteca do Colégio ADN, onde eu dava aulas de xadrez. Foi uma partida de treinamento, jogada sem relógio, a pedido do professor Áureo Junior, diretor do colégio, e também oficial do exército, que estava preparando-se para jogar o campeonato carioca classe B. O prof. Áureo pode ser considerado um bom jogador classe B, com conhecimento de teoria, já tendo vencido jogadores classe A. A partida durou aproximadamente 40 minutos. Esta partida produziu-me fortes emoções: primeiro fiquei empolgado por ter produzido uma bela partida; depois descobri que já ocorreram partidas parecidas em 1895 (!) e 1990.

Partida ao nível das “imortais”, com sacrifício de 5 (!) peças, jogada “a la Anderssen”!!

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Semelhanças desta partida com a Imortal: – sacrifício das 2 torres; – interceptação da ação de defesa da dama através do avanço de um peão (10…d4 e 19.e5); – a abertura jogada na Imortal leva o nome do perdedor, contra-gambito Kieseritzky; na Magistral Carioca o perdedor jogou a abertura Sokolsky, que com um pouquinho de imaginação, lembra Sokolik; – na Imortal foram sacrificadas 4 peças, na Magistral Carioca 5 peças; – as duas torres do lado perdedor não se moveram; – nas duas partidas, ambos reis ficaram no meio do tabuleiro; – as peças do lado perdedor ficaram espalhadas pelas bordas do tabuleiro; – ambas partidas foram curtas: 21 e 23 lances; – as damas tiveram grande participação em ambas partidas. – a Imortal também foi uma partida informal! E outra jóia do xadrez, a partida entre Morphy e o Conde de Isouard, foi jogada durante um intervalo da ópera “O Barbeiro de Sevilha”, na Ópera de Paris, em 1858.

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PDF – Áureo x Sokolik – Treinamento 1999

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PGN – Aureo

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EXIBIR – Áureo

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MI Kagan X Sokolik

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Partida jogada numa simultânea contra outro participante do Interzonal de Petrópolis, Mestre Internacional campeão de Israel, nove dias após eu ter vencido o ex-Campeão Mundial Vassily Smyslov, em 1973, no que chamei de “Ano de Ouro”.

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PDF – Kagan – Sokolik, Simultânea 1973

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PGN – Kagan

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EXIBIR – Kagan

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França X Sokolik

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HOMENAGEM À BOBBY FISCHER! Estava dando um curso de xadrez, nas férias de 2008, quando recebi a triste notícia do falecimento de Bobby Fischer; pensei então num jeito de homenageá-lo na aula seguinte, e a forma que encontrei e também a mais significativa para mim, foi dedicar esta importante partida para a conquista dos Jogos Universitários Brasileiros, a partida mais longa que joguei, com 115 lances, que durou 3 dias de jogos, num total de 12 horas e 47 minutos de luta, à Bobby Fischer, inspiração de técnica e combatividade no xadrez.

Segundo o presidente da Federação de Esportes Universitários do RJ, esta partida foi decisiva para o Rio de Janeiro conquistar pela primeira vez os Jogos Universitários Brasileiros, pois graças a ela, entramos na última rodada já campeões e pudemos empatar com o Rio Grande do Norte, colocando São Paulo na terceira colocação, fazendo portanto menor pontuação. O fato curioso é que a delegação de SP pensou que eu estivesse “catimbando”, tentando vencer pelo cansaço. Teve um dia que ao chegar ao refeitório, todos se levantaram e saíram; pareceu filme de bang-bang, quando chega o bandido e todos fogem do bar. Mas o que eles não sabiam é que no único livro que eu levei para Maceió, com todas as partidas de Bobby Fischer, tinha um final quase igual, e o Fischer venceu! Estudei o final e achei que seria minha obrigação jogar para vencer. Até o chefe da delegação do Rio de Janeiro, meu amigo Wanderley Nunes, me perguntou se eu não estava catimbando!? Mostrei a ele o livro e disse que ia vencer o final! A situação com os paulistas só se “clareou” na entrega da premiação, com as devidas explicações. Anos depois encontrei análises do mesmo tipo de final onde o jogador com a torre tem que fazer uma defesa precisa para empatar. Isto também justifica que o jogador em vantagem tente a vitória! Vemos isto em vários finais equilibrados vencidos por Magnus Carlsen.

Segundo as análises que fiz com a Tabela Nalimov Online, o único momento em que as brancas poderiam obter igualdade seria com o lance 107-Ta4, ao invés do jogado 107-Ta5.

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PDF – França – Sokolik, JUBs 1975

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PGN – França

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EXIBIR – França

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Sokolik X MF Másculo

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A minha história de superação! Minha partida mais dramática. Que decepção chegar ao 20º lance da minha partida contra o amigo José Soares Másculo (em memória), com um peão a menos e ver seu cavalo inexpugnável em d4! A irritação e frustração eram tamanhas que sequer conseguia analisar a posição … mal conseguia olhar o tabuleiro … como reagir numa situação destas? Fui dando tempo para me acalmar e recuperar a concentração; acho que levei uns 10 minutos tentando me desligar … e levei uns 30 minutos tentando encontrar uma saída para a situação em que havia me metido; no total sei que foi a minha mais longa reflexão, por volta de 40 minutos para um lance. Mas valeu a pena! Encontrei um plano que me daria chances de tentar um empate! O que já seria um ótimo resultado diante da posição que estava à minha frente. E, por incrível que pareça, aconteceu exatamente o que eu havia imaginado … e mais, quando igualei, assumi uma perigosa iniciativa e quem deveria jogar de forma precisa seriam as pretas … o jogo virou, mesmo com um peão a menos para mim … os movimentos longos da dama branca atordoaram as pretas … da ala do rei para a ala da dama, da primeira fileira para a retaguarda, pelas diagonais, … a dama branca jogou uma barbaridade … e ao contrário das pretas, as peças brancas, rei, dama e bispo, se coordenaram de tal forma que não deram brecha para nenhuma invasão da dama preta, e não faltaram tentativas. Esta partida teve uma heroína, a dama branca, com uma tremenda ajuda do aparentemente obscuro bispo bloqueado pelo seu parceiro peão em e4, e teve uma vítima, o cavalo das pretas, inexpugnável em d4, aparentemente dono do tabuleiro, e que transformou-se num espectador privilegiado, sem participação nenhuma nos acontecimentos, e ao final, coube-lhe um triste papel defensivo. Másculo era o quarto maior rating do Torneio de Mestres, um forte jogador, e esta vitória, a duas rodadas do fim, me ajudou a ser um dos vencedores do Torneio, empatado com mais três jogadores.

Encarar a posição do lance 20, recuperar-me psicologicamente para continuar a luta e conseguir traçar um plano, foi significativo para mim, e senti-me num novo patamar de superação e combatividade.

LIÇÕES DESTA PARTIDA

– prestar mais atenção na abertura;

– em situações difíceis, esperar acalmar, antes de entrar no “modo de análise” e fazer uma longa reflexão;

– movimentos longos de dama, têm grande impacto na posição e confundem o adversário;

– nunca ficar pensando no que passou, nas oportunidades perdidas; – se o jogo virar, jogar para vencer!

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PDF – Sokolik x Masculo, Mestres 1985

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PGN – Másculo

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EXIBIR – Másculo

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